Desenhos,
doçura e amor de verdade
Um dos trabalhos do desenhista
Foto: Acervo Pessoal de Erivan de Paula
Erivan
de Paula Santos Neto, 22 anos, é um estudante de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Goiás (UFG) unidade Catalão.
Autodidata, ele começou a desenhar na adolescência e nos conta como
a arte o ajudou a entender a descoberta da homossexualidade e a
superar conflitos.
Larissa
Artiaga: Erivan, primeiramente eu gostaria de saber mais sobre
você.Quais aspectos da sua história de vida você considera
marcantes ?
Erivan
de Paula: Acredito que um dos momentos mais marcantes da minha
vida aconteceu quando passei no vestibular, tentei passar em Goiânia
e não foi possível,porém em Catalão fiz muitos amigos. Outro fato
marcante foi a separação dos meus pais, que não ocorreu de forma
amigável.E por último, ter me assumido homossexual já que a
descoberta da sexualidade é uma questão difícil por não se tratar
de uma escolha.
Larissa
Artiaga: Muitos jovens assim como você também não conseguem
passar no vestibular na primeira tentativa. Qual conselho você daria
para essas pessoas ?
Erivan
de Paula: Um dos principais conselhos que dou em relação ao
vestibular é para que a pessoa não desista do próprio
sonho.Confiança em si mesmo é muito importante, por exemplo quando
cheguei em Catalão eu não conhecia ninguém, e hoje em dia tenho
muitos amigos aqui.Isso mostra que talvez se você não é aprovado
na primeira tentativa para a cidade que você deseja, talvez é
porque não era pra ser.Portanto é fundamental seguir adiante.
LA:
Erivan, você falou em confiança e fé em si mesmo.Morar sozinho
influênciou no seu ganho de autoconfiança ao ponto de você
conseguir entender a si próprio e assumir-se homossexual ?
EP:
Quando você passa a morar sozinho e a não depender dos pais muitas
coisas mudam, de forma que o foco está em si próprio.Assim passamos
a cuidar de nós mesmos,cozinhar, lavar e passar as próprias
roupas.Então sim, passei a descobrir e entender minha personalidade
e morar sozinho influênciou bastante.
LA:
Partindo do ponto de que a pessoa nasce homossexual, o que se passou
na sua cabeça quando você se descobriu e entendeu que é
homossexual ?
EP:
Muitas coisas se passavam na minha cabeça nesse momento, visto que
eu tinha muitos conflitos internos religiosos e com relação à
minha família.Você ouve falar de homofobia, mas a maneira como os
LGBTs são tratados pela sociedade torna difícil o processo de
entendimento dasexualidade.Pensei também que seria rejeitado pela
minha mãe já que não tenho mais contato com o meu pai, e por isso
rejeitei a mim mesmo em um primeiro momento.
LA:
De uma maneira geral faltam bons exemplos de representatividadeLGBT
na sociedade ?
EP:
Falta sim, até porque o maior medo dos homossexuais é a rejeição
familiar, e muitos enfrentam esse problema.Talvez se a mídia
representasse a população LGBT de forma mais positiva,
haveria menos preconceito e homofobia.
LA:
E como é o sentimento dos seus familiares em relação a sua
sexualidade ?
EP:
Meu pai e minha família parterna não sabem. Já minha mãe está em
processo de aceitação, ela soube recentemente e até o momento
acredita que é só uma fase.Minha família materna de uma maneira
geral me aceita, contudo não sei como seria a reação deles caso eu
chegasse com um namorado em casa.
LA:
E no curso de Engenharia da UFG, você sofreu preconceito por ser gay
?
EP:
Não. Nunca sofri nenhum tipo de preconceito dentro da universidade.
LA:
O engenheiro constrói estruturas físicas e os artistas constroem
estruturas emocionais.Como o fato de desenhar te ajudou a lidar com
seus conflitos internos ?
EP:
Não me lembro exatamente quando comecei a desenhar, comecei na
adolescência e sou autodidata.Todos os desenhos que fiz têm muito a
ver com a minha própria personalidade e refletem momentos da minha
vida, e um dos meus favoritos é um que eu fiz mostrando um casal
abraçado com asas como se fossem anjos.
LA:
Uma característica do teu trabalho é que geralmente os desenhos vem
acompanhados de frases, e letras de músicas.Se seus desenhos falam
tanto sobre você, quais trabalhos podemos esperar para o futuro ?
EP:
Esperem mais desenhos com textos e letras de músicas, mais trabalhos
relacionados a filmes, à melancolia e ao amor.Por acreditar que a
vida é feita de mudanças, tudo é possível.Desejo uma vida de
desenhos felizes para todos nós.
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